Projecto Ubuntu defende uma visão afrocêntrica da música


O Projecto Ubuntu realizou, neste sábado à tarde, na Mediateca de Luanda, a 4ª edição do evento ‘Diálogos Culturais’, subordinado ao tema ‘Etno-musicologia’.

Professor Txi Txi, um dos prelectores convidados, na sua abordagem, começou por definir a Etno-musicologia como sendo o estudo da música a partir dos aspectos culturais e sociais das pessoas que a fazem. Acrescentou que o conceito abrange abordagens teóricas e metódicas distintas que enfatizam dimensões ou aspectos culturais, sociais, materiais, cognitivos, biológicos, ao invés de apenas o seu componente sonoro isolado.

Para o músico e investigador cultural Txi Txi, a música não pode ser vista a partir de uma ideia clássica ditada pelo ocidente. Segundo Txi Txi, na educação cultural clássica de concepção ocidental, o canto está desassociado da dança e dos instrumentos musicais. “Já o sistema cultura africano Bantu, o canto está associado aos instrumentos musicais e à dança”, sublinhou.

Txi Txi disse ainda que o Semba que se pratica hoje, enquanto dança, foi imposto pela colonização. “A proibição das nossas manifestações culturais alienou a nossa idiossincrasia. O Semba é dos ritmos que sofreu muito. O modo como hoje dançamos o semba (dama e cavalheiro) nos foi imposto pelo sistema colonial”, frisou.

Aquando da sua abordagem, músico e investigador cultural lamentou o facto de a juventude não entender as músicas cantadas em línguas nacionais. “Esses jovens não entendem os provérbios do kota Bangão”, porém, reconheceu que o Kuduro é um grito dos nossos antepassados que se tem manifestado nos jovens. “O Kuduro é a manifestação da nossa africanidade. Vê-se nesse estilo a mistura da dança e o canto. Só falta a inserção dos instrumentos tradicionais”, observou.

Por último, aconselhou os presentes a optarem pelo que é do Continente-Berço. Salientou que dança não é só o balé, e que instrumentos musicais não são apenas a viola e o piano. “Ensinem as nossas crianças a dançarem o folclore. Elas podem tocar o batuque, a dikanza ou mesmo o Kissanji”, incentivou.

O rapper Keita Maianda, à semelhança de Cláudio Silva e Broun X que falaram das origens da enorme cultura urbana ‘Hip Hop’, abordou sobre o seu percurso enquanto fazedor de Rap há 24 anos.

A autor do álbum ‘O homem e o Artista’ fez saber que, para si, existem três factores fundamentais para que um artista continue relevante e actual. A autenticidade e criatividade, a colaboração e a pesquisa foram os elementos apresentados pelo Keita Maianda.

“Sejam criativos e autênticos. Seguir o que o marcado e as gravadoras ditam não é o melhor caminho. Façam o que se idêntica convosco. Não procurem simplesmente responder a demanda do público, sejas autênticos e criativos”, reiterou.

O rapper, fotógrafo, marqueteiro, sociólogo e pensador, sublinhou que nas artes a colaboração com outros artistas ou movimentos é sempre fundamental. De igual modo, frisou que a relevância e a actualidade de um artista prende-se no estudo contínuo do passado e do presente. “Não ficcionar a nossa vida é o que faz com que a nossa música atinja a vida de outras pessoas”, terminou dizendo.

Os presentes no evento não deixaram de honrar e homenagear Winnie Mandela e Jaka Jamba, tendo feito 1 minuto silêncio em memória a estas relevantes figuras da história africana.



Texto: Lourenço Mussango

Fotografia: Leni Staff



Fonte: Dubai-musik
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